Ali estava, sentado, sozinho e no banco de jardim lembra-se.
Lembra-se dos sacrifícios passados no regime, autoritário e
de poucas oportunidades para quem trabalhava.
À memória surge as duras condições de trabalho, mal pagas.
As explorações. Os pagamentos ora atrasados ora adiados. Os meses do vazio da
algibeira.
Lembra-se da fome que se passava. Miséria. A escassa
sardinha partilhada, a salgadeira que quando cheia prolongava refeições, para
meses.
Recorda-se com orgulho dos que deram o salto, fugiram da
repressão e da savana, que de tanto tinham medo e onde não queriam cair. Dos
sonhos que perseguiram, do esforço justamente recompensado, lá, longe de casa.
Sorri quando se lembra da conquista das adequadas horas de
trabalho, mas tão depressa o seu rosto redesenha o oposto sentimento, quando
recorda os que por isso lutaram, esses lançados ao escuro esquecimento pelos
que enfrentavam, os que refreavam a procura pelos seus direitos.
E depois vieram os cravos, e com eles finalmente a
liberdade, o desenvolvimento e o trabalho. Os justos direitos reclamados e
concordados. Os projectos e as promessas.
Lembra-se do pé na Europa. Do investimento na educação e as
risonhas expectativas futuras. Do país que se anunciava prospero.
Lembra-se das injustas condições, do trabalhador explorado,
que a opressão a muitos prejudicava. A inexistência de benefícios sociais e que
por apenas baixos salários se conseguia trabalho. Lembra-se do que se lutou, do
que se reivindicou e do que isso custou.
Era 1º de Maio, e ali sentado naquele banco de jardim não esquece
do que a história lhe ensinou. Também não esquece que é um jovem,
recém-licenciado desempregado, num país que lhe adia objectivos e lhe oprime
sonhos.
Era feriado, e vai esquecendo o seu significado.
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