terça-feira, 7 de maio de 2013

1º de Maio



Ali estava, sentado, sozinho e no banco de jardim lembra-se.
Lembra-se dos sacrifícios passados no regime, autoritário e de poucas oportunidades para quem trabalhava.
À memória surge as duras condições de trabalho, mal pagas. As explorações. Os pagamentos ora atrasados ora adiados. Os meses do vazio da algibeira.
Lembra-se da fome que se passava. Miséria. A escassa sardinha partilhada, a salgadeira que quando cheia prolongava refeições, para meses.
Recorda-se com orgulho dos que deram o salto, fugiram da repressão e da savana, que de tanto tinham medo e onde não queriam cair. Dos sonhos que perseguiram, do esforço justamente recompensado, lá, longe de casa.
Sorri quando se lembra da conquista das adequadas horas de trabalho, mas tão depressa o seu rosto redesenha o oposto sentimento, quando recorda os que por isso lutaram, esses lançados ao escuro esquecimento pelos que enfrentavam, os que refreavam a procura pelos seus direitos.
E depois vieram os cravos, e com eles finalmente a liberdade, o desenvolvimento e o trabalho. Os justos direitos reclamados e concordados. Os projectos e as promessas.
Lembra-se do pé na Europa. Do investimento na educação e as risonhas expectativas futuras. Do país que se anunciava prospero.
Lembra-se das injustas condições, do trabalhador explorado, que a opressão a muitos prejudicava. A inexistência de benefícios sociais e que por apenas baixos salários se conseguia trabalho. Lembra-se do que se lutou, do que se reivindicou e do que isso custou.
Era 1º de Maio, e ali sentado naquele banco de jardim não esquece do que a história lhe ensinou. Também não esquece que é um jovem, recém-licenciado desempregado, num país que lhe adia objectivos e lhe oprime sonhos.
Era feriado, e vai esquecendo o seu significado.

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