quinta-feira, 9 de maio de 2013

O muro



Deste meu lado do muro o calmo momento é abruptamente interrompido, sem aviso, sem o esperar. A partir daquele instante toda a minha atenção teria como alvo aquele muro.
Ouço-a do lado de cá, sem ela saber, sem lhe ter dado o direito à escolha. Do lado de lá nada sei, apenas ouço. Ela não o sabe, mas aparenta pouco se importar se alguém a ouve.
Apenas ouço o som, salta o muro imperando a minha imaginação a construir uma imagem, uma possível cena e acto do espectáculo proibido aos meus olhos, o que ouvia amplificava-me a criatividade. A curiosidade assalta-me e de onde estou não me atrevo a sair, apesar de tal som retalhar-me por dentro, dilacera-me o cérebro, destruir-me os ouvidos. Em nada consigo pensar, apenas me limito a ouvir.
Ouço imóvel, o que me provoca a crescente sensação de impotência, sinto-me ridículo ao ouvir tais avassaladores acordes que nem o alto e cinzento muro impede de até mim chegarem, aquela música, triste música.
Chega o silêncio, por fim, mais não a ouvi, nunca mais.
Talvez nunca saberei porque chorava ela.

1 comentário:

Unknown disse...

ui, mto bom. mas tens qe me explicar isto