Deste meu lado do muro o calmo momento é abruptamente
interrompido, sem aviso, sem o esperar. A partir daquele instante toda a minha
atenção teria como alvo aquele muro.
Ouço-a do lado de cá, sem ela saber, sem lhe ter dado o
direito à escolha. Do lado de lá nada sei, apenas ouço. Ela não o sabe, mas
aparenta pouco se importar se alguém a ouve.
Apenas ouço o som, salta o muro imperando a minha imaginação
a construir uma imagem, uma possível cena e acto do espectáculo proibido aos
meus olhos, o que ouvia amplificava-me a criatividade. A curiosidade
assalta-me e de onde estou não me atrevo a sair, apesar de tal som retalhar-me
por dentro, dilacera-me o cérebro, destruir-me os ouvidos. Em nada consigo
pensar, apenas me limito a ouvir.
Ouço imóvel, o que me provoca a crescente sensação de
impotência, sinto-me ridículo ao ouvir tais avassaladores acordes que nem o
alto e cinzento muro impede de até mim chegarem, aquela música, triste música.
Chega o silêncio, por fim, mais não a ouvi, nunca mais.
Talvez nunca saberei porque chorava ela.
1 comentário:
ui, mto bom. mas tens qe me explicar isto
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