Vejo um coelho, um pouco mais ao fundo está a passar um
carro. Entre eles está um velho, um pastor pelo cajado em que aparenta apoiar-se.
A passar mais perto está um comboio seguido de um cavalo. As ovelhas, que até
são bastantes, em número que não me é fácil de contar estão espalhadas por lá,
estranhei a indiferença do pastor, bastante longe da maioria. Ou talvez fosse
apenas um velho. O carro já passou pelo comboio e o coelho parece que fugiu. O cavalo
aproxima-se de uma casa. Olho para o lado e vejo um barco, pequeno, a flutuar
no azul. Será o pastor afinal um pescador ou confirma-se a ideia de um velho
que por ali apenas se passeia? O cavalo já deve ter entrado na casa, deve ser
um estábulo. Aparece uma vaca por entre as ovelhas, indiferente aos outros ruminantes,
tal como o contrário. Do estábulo corre um cão em direcção ao comboio que passa
pelo velho, este já a bordo do barco deixou para trás o cajado. O carro parou
junto a uma árvore, parece-me uma pequena oliveira, se não me engano. Volto a
ver o coelho. Pareceu-me que fosse o mesmo, mas as manchas escuras no pêlo
destacam a diferença do primeiro. Algumas ovelhas já se foram embora e o velho
no barco apanhou o comboio. Um carro dos bombeiros está onde antes vi a vaca,
do animal nem sinal. O cão subiu para a oliveira e o coelho agarrou no cajado
esquecido. Alguns dos que antes vi já foram, seguiram na sua marcha lenta. Mas mais
aparecem, outros, diferentes. Um espectáculo contínuo de inúmeras personagens,
num desfile perante mim. E eu aqui, deitado numa confortável cama de relva a
olhar o céu, assisto.
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