quinta-feira, 18 de julho de 2013

O menino que foi ver o mar



Sentado a um canto do seu quintal aproveitava a sombra da casa vizinha que por ali se fazia passear naquelas horas de mais calor, ouviu as dobradiças do velho portão, um já conhecido gritinho que o faziam preparar para receber as visitas. Os leves passinhos em timbre de corrida rapidamente fizeram-no perceber quem lá vinha, e ao dobrar o canto da casa com uma alegria contagiante

- Vamos ver o mar, avô

num quase cântico entre pulos, de inocente sorriso motivados pela anunciada viagem o menino voou para os braços do velho que, de um também enorme sorriso por entre as rugas, prontamente aceitou o convite. Não tinha como negar, apesar da sua cada vez mais vagarosa vida, perder a oportunidade de abdicar da sua calma e sossego pelo neto era o que mais lhe agradava. E desta vez iriam ver o mar.

O menino perdia-se pelas dunas douradas, corria e assustava gaivotas, sorria e brincava, fugia das ondas e esbanjava toda a sua satisfação pelo areal.

Mas perto de onde o mar vai e vem e onde deixa a sedosa areia molhada encontrava-se o velho imóvel, capturava o máximo de sensações que aquele momento lhe concedia. O sol no seu enrugado rosto que de sombras já não queria saber; o vento que fazia ondular os finos cabelos grisalhos como as hipnotizantes ondas que os seus agora brilhantes olhos contemplavam; o cheiro do mar que lhe apagava da memória as terríveis doenças de inverno; a sensação sem igual que sentia por todo o corpo, provocada a cada onda que acabava nos seus pés; queria guardar em si tudo, não esquecer, não perder nada.

O menino dormia na sombra do colorido chapéu-de-sol enquanto o velho ainda se mantinha no mesmo local. Não teve necessidade de correr ou saltar, decidiu aproveitar o mar assim, sereno e calmo como a sua vida o habituou a estar, porque aquele dia de novidades poderia não voltar a repetir-se.

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